segunda-feira, janeiro 25, 2010

Dentadura no copo d´água

O tempo não perdoa meus dentes
e vou deixando um pouco de mim
a cada porta que atravesso.

Rosto, coração, pés e lagrimas

Minhas mazelas perduram fossilizadas
em algumas das minhas mais hesitantes resignações.
Artesão da dor, contorcionista da morte
meu corpo tilinta pela febre
nas madrugadas secas da minha essência
dentro do quarto.
Sem teto.
Sem luz.
Sem esperança.

Estrelas vão se apagando, uma a uma
até me deixarem completamente no escuro,
encaixotado em lembranças suas.
E amordaçado pelas desilusões minhas - só minhas.

O cuco não grita mais
e todos os loucos cimentados em muros
uivam descompassadamente.
E assim, nessa busca pelo que nem bem sei o que
vou pulando rios e abraçando mares,
pisando em cometas,
e retirando da minha carne azul aveludada
espinhos de toda sorte,
as vezes ainda molhado,
mas na maior parte do tempo
ressecados, gastos
e da forma mais cínica, esquecido.