segunda-feira, novembro 01, 2010

Enviesado

As palavras podem ser vazias
pior quando são inclinadas.
Minha dicção tremula
e o fortuito das letras formula-se mal
Todas as verdades expostas entre alto e baixo
Na noite de sonhos mágicos e paralisados
Todo abraço já não aperta mais.
Desmorona.
Todo sorriso fica torto,
já não cativa mais.
Assusta.

Segundos espichados geram frutos
Bons frutos germinados por tormentas de azar
Cultivados num breve instante
Noite e dia, bom e ruim.
Eu era. Agora sou.

(Adriano Gentil)

sexta-feira, outubro 15, 2010

Obra inacabada

Mais que palavras,
sou revólver
no silêncio dos meus próprios versos.
Contemplação na madrugada
de sonhos indigestos
afastam de mim anjos tortos
que se banham em cachoeiras.
Mais que palavras,
sou sótão empoeirado
na história de amores quebrados.
Tudo me revela açúcar espalhado no chão.
Tudo me revela casario barroco coberto de limo.
Sou poema de outro, refrão sem eco.

Sou dor de amor.

Sinto o vento lutando no meu corpo
e me vejo asa.
Meus azuis se espalham na tua palidez.
Descaminhos do mundo
me permitem assemelhar
com poemas sem fim
com poços sem fundo
com corações mortos.

(Adriano Gentil)

segunda-feira, agosto 30, 2010

(...)E ASSIM VOU TE PERDENDO

Na minha língua todos os assaltos da alma
moram sem raiz, mas cobertos de razão.
O prazer do teu pecado ingênuo,
quando o cheiro dos pêssegos invadem as tuas narinas dilatadas
parece queimar toda a pele,
desmancha meu masculino com teu hálito quente.

Me sinto engolido.
Alucinações, entre gemidos sinuosos,
dançam no cume rubro do mundo
cujo nome é língua...
é boca, é saliva, é chamas.
E repetidamente testemunho toda burrice do amor
perdido nas suas contas
de somar o tempo e multiplicar o ritmo.

Meus desígnios cochilam a céu aberto
forrados de fome incandescente
e já nem percebem a vertigem cinza
dos dedos entregando-se ao naufrago,
ora por entre véus de primavera...
ora por entre orquídeas, histéricas, de fumaça.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Dentadura no copo d´água

O tempo não perdoa meus dentes
e vou deixando um pouco de mim
a cada porta que atravesso.

Rosto, coração, pés e lagrimas

Minhas mazelas perduram fossilizadas
em algumas das minhas mais hesitantes resignações.
Artesão da dor, contorcionista da morte
meu corpo tilinta pela febre
nas madrugadas secas da minha essência
dentro do quarto.
Sem teto.
Sem luz.
Sem esperança.

Estrelas vão se apagando, uma a uma
até me deixarem completamente no escuro,
encaixotado em lembranças suas.
E amordaçado pelas desilusões minhas - só minhas.

O cuco não grita mais
e todos os loucos cimentados em muros
uivam descompassadamente.
E assim, nessa busca pelo que nem bem sei o que
vou pulando rios e abraçando mares,
pisando em cometas,
e retirando da minha carne azul aveludada
espinhos de toda sorte,
as vezes ainda molhado,
mas na maior parte do tempo
ressecados, gastos
e da forma mais cínica, esquecido.