sexta-feira, outubro 15, 2010

Obra inacabada

Mais que palavras,
sou revólver
no silêncio dos meus próprios versos.
Contemplação na madrugada
de sonhos indigestos
afastam de mim anjos tortos
que se banham em cachoeiras.
Mais que palavras,
sou sótão empoeirado
na história de amores quebrados.
Tudo me revela açúcar espalhado no chão.
Tudo me revela casario barroco coberto de limo.
Sou poema de outro, refrão sem eco.

Sou dor de amor.

Sinto o vento lutando no meu corpo
e me vejo asa.
Meus azuis se espalham na tua palidez.
Descaminhos do mundo
me permitem assemelhar
com poemas sem fim
com poços sem fundo
com corações mortos.

(Adriano Gentil)